segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um comentário:

Joaquim Eloy, também Jeds disse...

QUERO VOLTAR!

J. Eloy Santos

Zilda olha para cima; por um instante desvia o olhar, mas não as palavras que dirige à atenta platéia. Um ruído estranho domina o salão e seu instinto humano lança-a de encontro à laje que se derrama, tremelicante, sobre o povo haitiano. Recebe um impacto brutal e já nada vê com o olhar humano. Sua visão tem indefinidas cores e seu ser conformação diferente do corpo sepultado sobre toneladas de cimento endurecido.
Zilda compreende que ultrapassara o limite delimitado entre a matéria e o espírito; sabe que um encontro a aguarda no Infinito do Grande Mistério; não mais divisa os canteiros de flores semeados durante suas sete décadas de calendário humano; observa a inexistência de intrincados caminhos, senão um apenas, de luzes e cores em arco-íris.
Iluminada nessa magia, Zilda está envolvida pela claridade da imensidão.
Acabando de chegar, ainda conserva o linguajar terreno e o Guardião que a recebe, profere palavras que conhece.
- Zilda Arns, com alegria a recebemos. Bem-vinda à bem-aventurança eterna ! – as palavras soam doces e ela vê – ou forja, ainda sob condicionamentos terrenos – um monumental portão totalmente aberto, sem limites, sem barreiras, sem alfândegas, sem constrangimentos. E continua o Guardião: - Entre, Zilda Arns no universo todo seu !
Zilda desaparece infinito adentro e se incorpora à santidade; perde a medida do tempo; vagueia entre luzes felizes; sua morada não tem contornos e ela divisa, sim, na etérea visão, que ainda guarda da passagem, Madre Teresa de Calcutá, Mahatma Ghandi, Santa Teresinha, São Francisco de Assis, Maria e José e tantos outros exemplos tomados para si, quando em vida humana peregrina.
E toma uma decisão; dirige-se ao Guardião:
- Desejo retornar !
- Impossível, Zilda, impossível !
- Nada é impossível para o Senhor !
- O Senhor não tem limitações, sim, não as tem. Porém, o que pede é impossível mesmo para Ele.
- Quero voltar !
- E por que, Zilda?! Não está feliz aqui?!
- Muito, muito feliz...
- Então?!
- Aqui só existe a felicidade; não tenho a quem ajudar! Que missão me é destinada aqui?
- Aqui? Nenhuma, Zilda. Sua missão se completou. Aproveite a Eternidade!
- Li, de um extraordinário humorista, Don José Cavaca, o poema: “A Vida Eterna, como deve ser cansativa”! E é. Não estou fazendo nada, ajudando a ninguém ! Quero voltar ! Crianças da Pastoral me aguardam, tenho mensagens para passar e muito trabalho...
- Mas, Zilda, o seu trabalho agora é aqui. É de inspiração, de apoio, de incentivo, como sempre foi. Porém sob outros enviados, que se baseiam na sua ação e ensinamentos.Como você, que agiu no exemplo da infinita bondade de tantas criaturas santas !
- É verdade ! Maravilhosa verdade !
Zilda Arns, desde então, no Infinito, sussurra a todos de boa vontade, o exemplo da missão cumprida, no incentivo ao amor, à bondade, ao santo e digno trabalho humanitário.

MUNDO EM ORAÇÃO

Para Zilda Arns

Pessoas de destino bem traçado,
De vida-norte para o bem, o amor,
Na santidade do abençoado
Entregam-se ao próximo com ardor.

Vida afora elas rompem, com fervor,
Pelas malhas do tempo em bordado,
Árduo caminho iluminador...
Por Deus, humano ser predestinado.

O bem que fazem à Humanidade,
O reforço que dão aos corações,
Elevam-nos à justa santidade.

Zilda Arns, partindo num repente,
Genuflexo o Mundo em orações,
Há de ficar em nós eternamente.

J. Eloy Santos
20-01-2010.